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sábado, 16 de novembro de 2013

Coração, cabeça, corpo



Chegou a um ponto que eu não sei mais nem dizer o que penso. Não há mais nada para ser pensado, aliás. Mas parece que a cabeça dá um jeito de não deixar pra lá. Não, apaga isso que eu disse. A cabeça quer deixar pra lá e o coração traz de volta à tona.

É o coração que não quer deixar que a cabeça tenha a certeza de que acabou. É o coração que sempre apresenta um argumento a mais pra fazer com que uma centelha de esperança se renove. É o coração que faz questão de guardar aquela expectativa de que ainda há algo mal resolvido. É o coração que ainda acorda todos os dias achando que é hoje que tudo vai se acertar. É o coração que fica se apegando à teoria de que não é possível que você seja tão substituível, tão facilmente esquecida. É o coração que quer te convencer de que existe um tempo essencial para que ambos se curem e possam voltar a ser o que eram antes. É o coração que enxerga em tudo quanto é canto o vazio da falta daquela presença. É o coração.

E a cabeça luta. Um conflito interno, eterno. A cabeça luta pra entender que a vida segue. A cabeça luta pra ignorar pensamentos ilusórios de futuro. A cabeça luta pra parar de analisar cada palavra dita e não dita, cada ato cometido e omitido, cada momento. A cabeça luta pra absorver a ideia de que não existe reciprocidade. A cabeça luta pra assimilar que o passado é passado e que o futuro vai ser diferente, que pode não ser como se quer, mas que, admitindo-se ou não, será melhor. A cabeça luta pra aceitar o fato de que era necessário. A cabeça luta pra viver sendo preenchida pelas coisas mais diversas, pelas mais diversas companhias, por qualquer coisa que distraia. A cabeça luta pra se concentrar no que é importante fazer, agora, pra se sentir melhor, a qualquer custo. A cabeça luta.

E o corpo, no meio de tudo isso, sofre. Sofre o esforço de constantemente ignorar o coração. Sofre o esforço de lutar constantemente dentro da cabeça. Sofre o esforço de sorrir e deixar pra lá o conflito interno, eterno. Sofre o esforço de obrigar-se a ir enfrentar um dia-a-dia que parece estranho, que não tem mais nada de familiar... E de fazer isso tendo que transparecer um força que é tudo faixada. Aliás, pensando bem, não é. Pra aguentar tudo isso tem que ser forte pra caramba. O que é faixada é essa disposição pra recomeçar. Mas, sendo forte assim, o que me resta é tentar, afinal. O corpo sofre.

E assim vai-se indo. Levando dia após dia. Sorrindo e aguentando o que não se pode mudar. Respirando fundo toda vez que uma lembrança surpreende, pra ver se o ar que enche completamente os pulmões se encarrega também de encher esse vazio que ficou. 

Coração. Cabeça. Corpo. Cada um se desgastando mais que o outro. Mas a vida segue. Ela tem que seguir. Né?

4 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Eu escrevera errado no último comentário, por isso apaguei, asuhaushauhs. Texto lindo, me tocou. Eu tenho uma ideia de tag no blog, se você gostar... é assim: Todo mês eu escolho um texto seu e reblogo no blog (claro, falando que a autoria é sua) e você faz o mesmo comigo. Sei lá, me deu uma vontade de que outras pessoas lessem esse texto, haha, me responde depois.

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    1. eu super topo! amei seus textos, de verdade. e sendo sincera, não toparia se não tivesse amado. :)

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    2. Então temos que escolher o dia certo, pode ser todo dia 21?

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