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quinta-feira, 3 de agosto de 2017

Aleatório

Em algum momento dessa vida eu perdi o fio da meada.

As rédeas que eu até, algum dia, cheguei a pensar que tinha, perdi. E nessa onda, fui indo sem nem olhar pra onde. E a maré me levou para lugares inimagináveis, onde cheguei tão rápido quanto fui embora.

Eu não tive tempo de fazer planos. Era piscar o olho pra me ver em uma situação nova, e era suspirar por um minuto pensando "é assim que vai ser, então", pra que, no fim do fôlego, tal como Dorothy, fosse colocada no meio de um furacão que me respondia: não tão rápido assim, mocinha.

Virginiana com ascendente em Escorpião, né? Nunca soube o que isso significada, mas dizem por aí que isso me faz perfeccionista, calculista, controladora... Pois é. Chego a pensar se isso tudo não foi uma pegadinha do cosmos pra me fazer aprender a ser menos paranóica. Se for assim, já penso em me preparar para as próximas reviravoltas, porque eu ainda tenho recaídas com a prática do "pensar demais". Aliás, tá vendo? Eu nem sei do futuro e já estou querendo me preparar pro que eu nem sei se vai acontecer.

Mas apesar das recaídas e dos momentos de uma dúvida que parece que vai fazer cair até meu último fio de cabelo, a verdade é que, de uma forma ou de outra, venho sendo obrigada a fechar os olhos e deixar que a única previsão de futuro que eu tenha seja a da minha próxima ação. E depois disso, da próxima. E da próxima.

Eu poderia dizer que essa perspectiva amedronta, mas diante de todos os medos que tenho que enfrentar apenas pra criar a coragem de realmente tomar atitudes, o medo de não planejar fica até insignificante.

Ainda bem que não tenho entrevista de emprego à vista, porque na hora que chegasse a pergunta clássica "como você se vê daqui 5 anos?", eu, com certeza, iria travar. Meu amigo, eu não sei onde eu me vejo daqui a 5 meses, quem dirá anos! Na realidade, refletindo sobre isso enquanto escrevo esse parágrafo, talvez o que me falte, seja, no final das contas, honestidade comigo mesma pra poder admitir que lá no fundo eu sei aonde quero estar. Falta também a firmeza de olhar pra frente e prometer a si que não vou desistir. Ah, cara... Quer saber? Poderia continuar enfeitando e tentando poetizar, mas a verdade nua e crua é só uma: falta auto-confiança.

Perdi tanto o fio da meada que comecei a escrever sem nem saber sobre o que queria escrever e acabei escrevendo sobre coisas que não esperava escrever. E continuo escrevendo, talvez só pelo prazer de sentir meus dedos baterem nas teclas, talvez só pela saudade que sentia de vomitar palavras, talvez só por querer enrolar pra fazer as tarefas que estão pendentes... Talvez porque eu ainda tenha muito, muito mesmo, guardado, amarrotado, emaranhado, embaraçado, apertado lá no fundo de uma gaveta de sentimentos, e esse engodo todo já esteja transbordando. Talvez a gaveta não feche mais, apesar de todo o esforço, de empurrar com a bunda pra tentar apertar mais, de fingir que ainda cabe. Sempre fui desorganizada com coisas materiais, minhas gavetas realmente sempre foram assim... Repeti o padrão com as gavetas internas.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Em busca dessa tal simplicidade

Do alto da arrogância, qualquer homem se imagina
Muito mais do que consegue ser
É que vendo lá de cima, a ilusão que lhe domina
Diz que pode muito antes de querer

Querer não é questão
Não justifica o fim
Pra quê complicação?
É simples assim

Focado no seu mundo, qualquer homem imagina
Muito menos do que pode ver
No escuro do seu quarto, ignora o céu lá fora
E fica claro que ele não quer perceber

Viver é uma questão
De início, meio e fim
Pra quê a solidão?
É simples assim

É, eu ando em busca dessa tal simplicidade
É, não deve ser tão complicado assim
É, se eu acredito, é minha verdade
E é simples assim

E a vida continua surpreendentemente bela
Mesmo quando nada nos sorri
E a gente ainda insiste em ter alguma confiança
Num futuro que ainda está por vir

Viver é uma paixão
Do início, meio ao fim
Pra quê complicação?
É simples assim

É, eu ando em busca dessa tal simplicidade
É, não deve ser tão complicado assim
É, se eu acredito, é minha verdade
E é simples assim

segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Bad é bom

Eu quero que bata uma bad. Sério.

Quero que bata uma bad daquelas que faça você chorar, chorar até ficar com o nariz completamente entupido e escorrendo, chorar feio, daqueles choros de fazer careta e alternar entre quase urrar e não emitir nenhum som.

Quero que bata uma bad daquelas que faça ouvir as músicas mais tristes já compostas no universo, se encaixando em todas as letras sofridas que os intérpretes cantam, também sofrendo.

Quero que bata uma bad daquelas que faça você abraçar o travesseiro com toda a força que conseguir, na tentativa de que aquele volume externo que você tá quase agregando ao seu corpo, de tanto agarrar, se transforme no preenchimento do vazio que você sente internamente.

Quero que bata uma bad daquelas que faça você querer sair de casa pra provar que pode dar a volta por cima, mas depois de dois drinks já tá chorando largado, contando seus augúrios pra primeira criatura que passar, se lamentando e querendo que as pessoas entendam o quão desgraçado você realmente está se sentindo.

Quero que bata uma bad daquelas que faça você não conseguir ficar sozinho um segundo sequer sem se sentir a pessoa mais abandonada e solitária do mundo inteiro, então passa o dia perturbando quem estiver ao lado, seja seus pais, seus amigos, seu cachorro, nem que seja pra que eles fiquem do seu lado fazendo qualquer coisa enquanto você chora.

Quero que bata uma bad daquelas que faça você parar de comer, porque o estômago tá embrulhado de desilusão.

Quero uma bad assim porque uma bad assim faz você sofrer como um condenado, mas um belo dia, passa de vez. Uma bad assim te faz exorcizar tudo o que te levou ao fundo do poço. Uma bad assim lava a alma, nem que seja com as lágrimas. Uma bad assim te obriga a querer melhorar, porque ninguém aguenta uma bad assim por tempo ilimitado. Bads assim têm prazo de validade. Bads assim são incomparavelmente melhores do que quando só parece que está tudo bem.

Quando só parece que está tudo bem é quando você segue a vida sem grandes motivos pra sofrer, mas ainda assim, nada está no lugar. Quando só parece que está tudo bem é quando tudo o que você faz é embalado por uma vozinha que grita na sua cabeça algo está constantemente errado. Quando só parece que está tudo bem é quando você quer com todas as forças desabafar as angústias, mas não tem pra quem, porque sabe que qualquer pessoa vai só te falar que você não tem tanto motivo assim pra reclamar. Quando só parece que está tudo bem é quando você tenta encaixar as pecinhas do quebra-cabeça, mas sente que sempre fica faltando alguma parte. Quando só parece que está tudo bem é quando você já entendeu a situação e já sabe que não tem razão pra fazer drama, mas não consegue ignorar a sensação de despertencimento. Quando só parece que está tudo bem é quando você até engana quem está ao seu redor, mas não é capaz de se enganar nem por um segundo.

Quando só parece que está tudo bem é quando ninguém vai se compadecer do seu sofrimento, porque, afinal, parece que está tudo bem. E viver só de aparência não é pra mim.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Há sempre motivos

Eu sou uma pessoa que não gosta de falar quando eu acho que o que eu tenho pra dizer não interessa a ninguém. Eu não gosto de escrever se eu penso que quem supostamente ler não vai tirar nada de proveitoso do que eu redigir.

É por isso que eu hesitei em falar do assunto que quero tratar. Porque eu mesma sou a prova viva de que a gente só aprende as coisas por conta própria. A gente só entende mesmo quando consegue explicar a si mesmo com as nossas próprias palavras. É até por isso que eu só consigo estudar se for em voz alta e se for parando a cada parágrafo pra reformular tudo que eu li do jeito que eu entendi. E eu já devo ter falado isso por aqui, assim como sempre falo pra todo mundo que conheço. Eu hesito justamente por já ter lido e ouvido mil pessoas falarem e tudo o mais, e nunca realmente ter conseguido botar aquilo em prática, sabe? Porque não fazia sentido pra mim, porque não adiantava seguir os passos de outra pessoa que teve outros aprendizados e chegou em lugares em que eu nunca tinha pisado.

É por isso que eu tenho comprovado cada vez mais que conselho não serve pra nada. Não adianta. Pelo menos não pra mim. Não mais. Porque, juro, meu coração sabe muito melhor o que precisa do que qualquer um perto de mim. Me fala: de que adianta ser racional e seguir direitinho as instruções de todos os aparentemente sábios ao nosso redor, se o coração fica lá dentro apertado, gritando, querendo fazer algo completamente diferente? De que adianta fazer o que as pessoas acham que é melhor por conseguirem ver nossa situação de fora e analisar, se é errando que se aprende?

Eu acho que a grande questão é que ultimamente eu tenho perdido o medo. Primeiro eu perdi o medo de parecer ridícula, porque eu segui meu coração. E, vamos combinar, sabemos que esse tal de coração às vezes faz a gente parecer ridícula, mesmo. Mas quando a gente acha que tá confuso, eu te prometo que é só ficar sozinha um tempo, é só pensar um pouquinho. Eu te prometo que o coração sempre sabe o que quer, nosso trabalho é só saber interpretar e aceitar. Eu sei o que é não querer aceitar as vontades do coração, a gente inventa mil outras coisas pra tentar camuflar o que realmente tá sentindo, dá até um pouco de vergonha de falar sobre essas tais vontades com qualquer pessoa. A questão é que a gente pode tentar se enganar, enganar os outros, mas o coração, a gente não engana. E enquanto eu não fiz o que ele mandava, eu não tive sossego, sabe? Ao passo que, quando decidi tomar uma atitude, o alívio foi tão enorme. Parece que levantou uma bandeira branca dentro de mim, e eu sorri mais tranquila, dormi melhor, descansei. Se fui ridícula de fato, no momento nem me importa. Se fui ridícula, foi por cinco minutos, agora tenho o resto da vida de paz. Aliás, se alguém me achou ridícula, o que eu sei é que não posso controlar como as pessoas pensam sobre mim, mas posso fazer o possível pra estar de bem com minha existência. E vou te contar algo com toda a convicção desse mundo: vale muito à pena

Depois desse primeiro passo, tudo o que eu vivo parece mais intenso. Depois de receber bandeira branca do meu coração, acho que fiquei livre pra fazer o que quisesse, ser o que quisesse ser. Era o medo de parecer ridícula que me impedia de viver tudo o que havia pra viver, me impedia de me permitir, como Lulu Santos falou que deveríamos. Sempre procurei ser a mais discreta possível em todas as situações e passar a imagem de uma pessoa sensata e equilibrada (apesar de raramente conseguir), nunca quis chamar atenção, sempre me preocupei com o que as pessoas falariam e pensariam de mim diante de qualquer coisa que eu fizesse. A novidade é que as pessoas têm uma concepção de você que não está em suas mãos definir, você se esforçado pra agradar ou não. Ou também pode ser que elas não pensem, que elas não se importem tanto quanto você acha que se importarão. Então eu me esforçava, e se algo saísse do meu controle, me martirizava e passava dias com aquilo martelando na cabeça. A ressaca moral. Até o dia em que me libertei. Não sei porque, não sei como, não sei quando, não sei o que aconteceu, só sei que percebi que não valia à pena o esforço, sabe? E desde então tenho me divertido tão mais, tenho tido momentos tão mais memoráveis, tenho rido muito mais, mas daquelas gargalhadas de doer a barriga mesmo. O mais importante é que tenho feito o que tenho tido vontade, não tenho tentado me podar e me restringir. Se fiz papel de ridícula? Muito provavelmente. Mas sabe de uma coisa, acho mesmo que ninguém se importou, ninguém falou nada e a vida seguiu naturalmente. E se tiverem falado? O que me importa? Eu tava feliz na hora e ainda sou feliz lembrando.

Sabe a vida? Essa mesmo, que dizem que é só uma, que é muito curta. Então, se às vezes a gente esquece desse detalhe, o destino tem me feito enxergar isso com mais clareza. A vida é realmente tudo isso que dizem dela. Agora a gente tá aqui, mas de uma hora pra outra pode não estar. É um pensamento bem escroto, com o perdão da palavra, mas é real. Vidas são interrompidas todos os dias, a todo momento, por inúmeros motivos. Vidas bem vividas, vidas pela metade, vidas pendentes, vidas sofridas, vidas felizes. Vidas de pessoas que não tiveram tempo de resolver tudo o que tinham pra resolver, que não puderam viver tudo que havia pra viver. Vidas. E enquanto a nossa tem o privilégio de seguir, enquanto ela seguir, é nossa obrigação fazer com ela o que for preciso pra que ela seja feliz. E tem um detalhe muito, mas muito importante: todos, todos os momentos da vida têm algum aspecto pra se amar. Eu disse todos. Até quando parece que tá tudo uma bosta, tem algum detalhezinho pelo qual você pode respirar fundo, agradecer, e amar. E amar aquele detalhe, amar aquele momento da vida.

Eu costumava dizer que não se tem vontade de escrever quando tá tudo bem, quando tá tudo feliz. Só se tem vontade de escrever quando as coisas não estão tão boas assim. Mas é mentira, sabia? Porque nos momentos recentes em que estava em alguma festa e tocava alguma música que eu realmente amava, que eu fechava os olhos, sorria e me permitia só sentir aquela sensação, que eu agradecia profundamente por poder estar ali, com aquelas pessoas, naquele exato instante, sem me importar se a galera ao redor tava achando que eu tava ficando louca... Nesses momentos, eu só queria poder traduzir em palavras o quão maravilhoso é se sentir assim. Como o fato de ser grata por tudo que acontece é extremamente decisivo pro nível de felicidade que você consegue sentir. E saber que a gente tem mesmo que se sentir grato por tudo que acontecer, porque a verdade é também um clichêzão daqueles bem manjados: tudo acontece por uma razão.

E voltamos ao motivo pelo qual eu nem queria escrever isso. É porque eu não posso simplesmente chegar e te falar: seja grato. Eu não posso simplesmente chegar e te aconselhar: se permita, perca o medo. Porque, como eu disse, conselho não funciona. Porque, como eu disse, você só aprende por conta própria. Quer dizer, não se pode generalizar, pode ser que exista gente por aí que é evoluída e sábia o suficiente pra ouvir alguém dizendo essas coisas e concordar, e mudar a percepção e passar a ser uma pessoa melhor. Pode ser também que eu que seja um pouco mais lenta, e, na verdade, isso funciona pra todo mundo menos pra mim. Independente disso, eu resolvi escrever porque (assim como tudo o que escrevo, na realidade), eu acho que eu devo à mim mesma registrar isso tudo que ando vivendo, sentindo, aprendendo, percebendo.

Eu, que sou teimosa e me entrego completamente ao que sinto no momento, acho que é de extrema importância que eu possa relembrar quando for necessário que nossa felicidade só depende da gente. É completamente essencial que eu possa compreender, se em algum momento eu parecer fraquejar, que nada nem ninguém tem o poder de nos quebrar ou destruir se nós não o concedermos.

Há sempre motivos pelos quais agradecer e se alegrar.

domingo, 15 de novembro de 2015

O amor muda

Você sabia que o amor muda as pessoas? Ou talvez ele mostre quem as pessoas realmente são. Pode ser também que você só se conheça de verdade depois de conhecer o amor. E quem sabe tudo o que você pensa sobre si, quando se trata de amor, não se aplica.

Eu sempre achei que não fosse nada romântica. Apesar de ver filmes e ler livros e ouvir músicas de amor, apesar de amar casais dos quais não fazia parte, apesar de imaginar histórias de amor pra mim, eu nunca conseguia me entregar de verdade. Houve um tempo em que isso realmente me preocupou. Comecei a pensar que nunca ia achar ninguém pra mim. Se a pessoa falava muito, enjoava. Se ela falava pouco, não queria o suficiente. Passava duas semanas com alguém por quem me interessei no primeiro dia, logo mais já não era tão interessante assim. Ao passo que, claro, qualquer um por quem eu parecia desenvolver algum tipo de apreço não demonstrava sequer saber da minha existência. Aí, um dia...

Sim, apareceu alguém. E simplesmente aconteceu. Eu não enjoei, ele não enjoou de mim. O assunto fluía, a química tava lá, eu ria do que ele falava, ele ria de mim também, tínhamos os mesmos gostos, os mesmos interesses, tínhamos, mais ainda, o mesmo sentimento. E eu não tinha que pensar demais, não me surgiram dúvidas como "será que vai dar certo", "será que ele é certo pra mim", "será que eu devo arriscar"... Simplesmente, deu, era, e eu arrisquei. E aí eu descobri que nunca tinha dado certo antes não porque eu não era nada romântica, mas porque eu era romântica demais. Ao conhecer aquele sentimento, que eu viria a nomear de amor, eu percebi que realmente, eu nunca iria querer nada demais com mais ninguém, porque, pra mim, nunca ia ser suficiente ficar com alguém porque aquela pessoa é bonita, é legal, é gentil. Nunca ia ser suficiente estar com uma pessoa porque ela também quer estar comigo. Pra mim, só funcionaria por completo. Com aquele frio na barriga, com o nervoso besta de qualquer interação. Com a felicidade de uma conversa trivial, com a rotina que faz sorrir. Com as discussões também, claro, mas as resoluções que evidenciam que nada é maior do que o que une. Eu sou romântica pra caralho, porque se não for pra me tirar o chão, o ar, a sanidade, e ao mesmo tempo me oferecer um porto seguro, um respirar de alívio e um ponto de lucidez numa vida conturbada, eu não quero. Se não for assim, não funciona. E eu nem penso sobre, simplesmente não flui.

Eu também sempre soube que era pessimista. Eu não precisava nem saber, isso todo mundo sempre me disse. "Poxa, para de pensar negativo", "você precisa ser mais positiva", "se você pensar que vai dar errado, nada vai dar certo". Minha facilidade de desistir diante da mais remota possibilidade de fracasso nunca me deixou esconder esse meu lado, que já foi pauta de tantas discussões entre amigos, que me deixa trancada num quarto quando tô pra baixo, que me tira oportunidades. Continuei pensando assim, até quando...

Diante de uma situação, na verdade, vivenciando a mesma situação pela... perdi a conta de qual vez, eu percebi. Eu percebi que quando se trata de amor, eu sou praticamente cega de otimismo. Quando se trata de amor eu assumo qualquer risco, eu aceito qualquer condição, eu pulo de olhos fechados e só me apego ao meu próprio sentimento como garantia de que não vou me estatelar. Sei disso porque não foi uma, nem duas, nem três vezes que tive de decidir se insistia ou se largava de vez. Sei disso porque não foram situações fáceis, porque eu escolhi o amor mesmo tendo 95% dos indícios apontando pro fracasso. Sei disso porque, ainda assim, aqui, sentada, redigindo esse texto, sei que se o amor me chamar mais uma vez, eu vou, novamente de olhos fechados. É como Lisbela fala naquele filme, "o amor me chamou pra um outro lado e eu fui atrás dele. Eu pensei que se eu não fosse, a minha vida inteira ia ser assim, vida de tristeza, vida de quem quis de corpo e alma e mesmo assim não fez, daí eu fui, eu fui e vou, toda vez que o amor me chamar, como um cachorrinho, mas coroada como uma rainha". Eu sempre vou, quantas vezes for preciso. Eu vou porque não se desperdiça amor. Logo eu, que aprendi que o amor mesmo é difícil de achar, não posso assumir uma postura de quem desiste assim.

Hoje talvez eu sofra menos, porque esses episódios com o amor me trouxeram serenidade. Serenidade pra saber que, quando é amor, acontece. Simplesmente acontece. Serenidade pra entender que a vida às vezes tem uma linha do tempo que a gente não consegue compreender quando tá no meio do tiroteio, mas que lá no futuro vai fazer sentido. Tem coisas que precisam acontecer no presente, mesmo que pareçam absurdas, mesmo que machuquem e deixem um vazio, porque o futuro tá chamando lá na frente com novas possibilidades. E o que mais me traz essa paz é saber que o amor é ainda mais sábio que nós, meros mortais que, de vez em quando, têm o privilégio de vivenciá-lo. Ele sabe muito bem quando aparecer, ele sabe muito bem a hora de se retrair, e se for preciso voltar, ele vai saber a hora também. Como em qualquer outro aspecto da vida, a não ser a Ciência (e essa eu nem discuto), é preciso ter fé.

Sou romântica. Sou otimista. Só o amor me faz assim.

quinta-feira, 25 de junho de 2015

Como dei a volta por cima

"0:26 - Sou a única acordada no avião. Não sei se por falta de sono ou excesso de sentimentos. Sabe-se lá porque, estava aqui chorando enquanto tocava "Last Hope". Passou um filme na cabeça. Sentimentos que, agora, dentro desde avião, prestes a iniciar algo que eu não faço a menor ideia onde vai dar, me parecem tão insignificantes. Acho que o que me leva às lágrimas é ver que passei por tudo isso e estou aqui. É ver na minha frente algo que era tão incisivo no passado se tornar algo tão trivial. Assim como tudo nessa vida, certo? Tudo passa, tudo sempre passará. O mais engraçado é que enquanto escrevia isso com certa dor em estar deixando coisas para trás, chega aos meus ouvidos, aleatoriamente, "Future". Poderia escrever a letra inteira aqui, tamanho é o encaixe do que ela diz com o momento presente. Em momentos de desilusão, já cheguei a questionar a existência dos meus tão queridos sinais do destino, mas ao me deparar com uma situação assim, não posso deixar de ter a absoluta certeza de que são reais. E se não forem, foda-se, servem para confortar o coração. (16.07.14)"

Não costumo desenterrar textos antigos, mas é que esse mereceu entrar pra história.

Vasculhando uma gaveta a procura de uma tesoura, resgatei meu mini moleskine de um ano atrás. Depois de um tempo de uso, se tornou um pouco difícil abrí-lo e me deparar com tudo que escrevia, pois se tratava de um monte de pensamentos confusos que queria colocar pra fora em uma época cheia de turbulências na minha vida. Ler tudo aquilo de novo me machucava tudo de novo. E de novo.

Hoje, num dia feliz, uma época feliz, num estado de espírito feliz, e com uma alma curada, criei coragem pra analisar todo o seu conteúdo. Em meio a páginas de frases de motivação, listas de motivos para não temer, textos muito mal escritos (provavelmente por estarem envoltos a nervosismo e talvez um pouco de raiva) e cheios de erros sobre tudo que estava sentindo e um amontoado de outras coisas que refletiam meu humor, achei esse, que na verdade é o último.

Escrito de dentro do avião, onde estava sentada do lado das minhas melhores amigas, com destino a Portugal, antes de embarcar para Amsterdã. Antes de viver os melhores (e mais cansativos) dias da minha vida. Antes de viver uma mudança absurda de pensamento, humor, maturidade. Antes de me libertar mais ainda das coisas que achava ser extremamente importantes, mas que, ao serem descartadas sem dó nem piedade, provaram não fazer falta alguma.

Tudo na nossa vida acontece, primeiramente, dentro da nossa cabeça. Isso é algo que nem sempre consigo controlar, mas que com certeza aprendi e não tenho dúvidas se é verdade. Eu não sou uma pessoa sempre positiva, eu nem sempre estou feliz e muitas vezes acho que vai dar tudo errado, mas eu sei muito bem que quando me dá uma inspiração e eu decido que, na verdade, vai dar é tudo certo, é isso que acontece. Ok, talvez as coisas são dêem sempre certo só porque eu decidi pensar que sim, mas se algo dá errado, não me abala tanto quanto quando eu estou no fundo do poço.

Eu só queria realmente registrar. Lembrar de épocas ruins, no fundo, me faz bem, porque eu também lembro de como dei a volta por cima. E esse "como dei a volta por cima" sempre acaba se tornando um dos momentos mais maravilhosos da vida. Nesse caso, foi uma Eurotrip, e eu não acho que vou ter outro "como dei a volta por cima" tão maravilhoso quanto esse. Mas sim, vai ser maravilhoso. Sempre é.

sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Aos recomeços voluntários

Coragem pra recomeçar.

Na verdade, recomeçar quando não se tem outra escolha é fácil. Quando se tem voltado a estaca zero, depois de levar rasteira da vida, quando já tá mesmo no fundo do poço. Afinal, qual a outra opção nessas situações, a não ser levantar, erguer a cabeça e meter de novo as caras na luta?

Difícil mesmo é recomeçar sem que isso seja realmente necessário. Encerrar um ciclo que não lhe fez bem pra iniciar outro que lhe propõe novas oportunidades é simplesmente essencial. Agora, escolher pôr um ponto final numa fase que só lhe trouxe felicidades e conquistas em detrimento de outra que oferece promessas tentadoras e novas esperanças, aí sim, é outra história.

Talvez pra quem aja com a razão isso nem seja algo a se pensar. Por que continuar fazendo o mesmo se um novo caminho, aparentemente melhor, lhe é apresentado, não é mesmo? Só que pro coração não é só isso que importa. O coração não leva em consideração outra coisa senão o sentimento. Ele vai guardado cada pessoa, cada sorriso, cada alegria. Ele só quer ficar aonde estiver à vontade, onde se sente acolhido. 

A vida tem dessas. Já diria Charlie Brown Jr, cada escolha, uma renúncia. Como é difícil dar um tiro no escuro. Fechar os olhos e se jogar numa possibilidade, deixar pra trás certezas concretas. De qualquer forma, sempre vai restar os "e se". E se eu tivesse ido embora, será que eu poderia ter ido muito mais longe? E se eu tivesse ficado, será que eu seria muito mais feliz? 

É por isso que eu queria não ter crescido. Não nasci pra ser adulta. Queria voltar no tempo, ser criança e deixar que gente grande decidisse por mim, afinal, gente grande sabe de tudo e sabe o que é melhor. Mas as coisas não são desse jeito, né? Cresci mesmo... Tenho que lidar. Tenho que botar a razão de um lado da balança, o coração do outro. Tenho que esquecer o medo. 

Daqui a uns anos, talvez até daqui a uns meses ou semanas, eu vou lembrar de tudo isso e rir. Vou pensar "olha só o dilema que entrei por causa de uma coisa tão simples". A verdade é que eu acredito piamente que as nossas escolhas traçam um destino que é ideal pra gente, que vai nos levar exatamente onde devemos chegar e que tudo vai dar certo no fim.

Uma parte de mim quer pular esses meios pra chegar logo à conclusão final, mas se for assim, a gente não dá valor às conquistas, né? Então, minha outra parte respira fundo, estufa o peito e finge saber o que tá fazendo. Só finge.