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segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Há sempre motivos

Eu sou uma pessoa que não gosta de falar quando eu acho que o que eu tenho pra dizer não interessa a ninguém. Eu não gosto de escrever se eu penso que quem supostamente ler não vai tirar nada de proveitoso do que eu redigir.

É por isso que eu hesitei em falar do assunto que quero tratar. Porque eu mesma sou a prova viva de que a gente só aprende as coisas por conta própria. A gente só entende mesmo quando consegue explicar a si mesmo com as nossas próprias palavras. É até por isso que eu só consigo estudar se for em voz alta e se for parando a cada parágrafo pra reformular tudo que eu li do jeito que eu entendi. E eu já devo ter falado isso por aqui, assim como sempre falo pra todo mundo que conheço. Eu hesito justamente por já ter lido e ouvido mil pessoas falarem e tudo o mais, e nunca realmente ter conseguido botar aquilo em prática, sabe? Porque não fazia sentido pra mim, porque não adiantava seguir os passos de outra pessoa que teve outros aprendizados e chegou em lugares em que eu nunca tinha pisado.

É por isso que eu tenho comprovado cada vez mais que conselho não serve pra nada. Não adianta. Pelo menos não pra mim. Não mais. Porque, juro, meu coração sabe muito melhor o que precisa do que qualquer um perto de mim. Me fala: de que adianta ser racional e seguir direitinho as instruções de todos os aparentemente sábios ao nosso redor, se o coração fica lá dentro apertado, gritando, querendo fazer algo completamente diferente? De que adianta fazer o que as pessoas acham que é melhor por conseguirem ver nossa situação de fora e analisar, se é errando que se aprende?

Eu acho que a grande questão é que ultimamente eu tenho perdido o medo. Primeiro eu perdi o medo de parecer ridícula, porque eu segui meu coração. E, vamos combinar, sabemos que esse tal de coração às vezes faz a gente parecer ridícula, mesmo. Mas quando a gente acha que tá confuso, eu te prometo que é só ficar sozinha um tempo, é só pensar um pouquinho. Eu te prometo que o coração sempre sabe o que quer, nosso trabalho é só saber interpretar e aceitar. Eu sei o que é não querer aceitar as vontades do coração, a gente inventa mil outras coisas pra tentar camuflar o que realmente tá sentindo, dá até um pouco de vergonha de falar sobre essas tais vontades com qualquer pessoa. A questão é que a gente pode tentar se enganar, enganar os outros, mas o coração, a gente não engana. E enquanto eu não fiz o que ele mandava, eu não tive sossego, sabe? Ao passo que, quando decidi tomar uma atitude, o alívio foi tão enorme. Parece que levantou uma bandeira branca dentro de mim, e eu sorri mais tranquila, dormi melhor, descansei. Se fui ridícula de fato, no momento nem me importa. Se fui ridícula, foi por cinco minutos, agora tenho o resto da vida de paz. Aliás, se alguém me achou ridícula, o que eu sei é que não posso controlar como as pessoas pensam sobre mim, mas posso fazer o possível pra estar de bem com minha existência. E vou te contar algo com toda a convicção desse mundo: vale muito à pena

Depois desse primeiro passo, tudo o que eu vivo parece mais intenso. Depois de receber bandeira branca do meu coração, acho que fiquei livre pra fazer o que quisesse, ser o que quisesse ser. Era o medo de parecer ridícula que me impedia de viver tudo o que havia pra viver, me impedia de me permitir, como Lulu Santos falou que deveríamos. Sempre procurei ser a mais discreta possível em todas as situações e passar a imagem de uma pessoa sensata e equilibrada (apesar de raramente conseguir), nunca quis chamar atenção, sempre me preocupei com o que as pessoas falariam e pensariam de mim diante de qualquer coisa que eu fizesse. A novidade é que as pessoas têm uma concepção de você que não está em suas mãos definir, você se esforçado pra agradar ou não. Ou também pode ser que elas não pensem, que elas não se importem tanto quanto você acha que se importarão. Então eu me esforçava, e se algo saísse do meu controle, me martirizava e passava dias com aquilo martelando na cabeça. A ressaca moral. Até o dia em que me libertei. Não sei porque, não sei como, não sei quando, não sei o que aconteceu, só sei que percebi que não valia à pena o esforço, sabe? E desde então tenho me divertido tão mais, tenho tido momentos tão mais memoráveis, tenho rido muito mais, mas daquelas gargalhadas de doer a barriga mesmo. O mais importante é que tenho feito o que tenho tido vontade, não tenho tentado me podar e me restringir. Se fiz papel de ridícula? Muito provavelmente. Mas sabe de uma coisa, acho mesmo que ninguém se importou, ninguém falou nada e a vida seguiu naturalmente. E se tiverem falado? O que me importa? Eu tava feliz na hora e ainda sou feliz lembrando.

Sabe a vida? Essa mesmo, que dizem que é só uma, que é muito curta. Então, se às vezes a gente esquece desse detalhe, o destino tem me feito enxergar isso com mais clareza. A vida é realmente tudo isso que dizem dela. Agora a gente tá aqui, mas de uma hora pra outra pode não estar. É um pensamento bem escroto, com o perdão da palavra, mas é real. Vidas são interrompidas todos os dias, a todo momento, por inúmeros motivos. Vidas bem vividas, vidas pela metade, vidas pendentes, vidas sofridas, vidas felizes. Vidas de pessoas que não tiveram tempo de resolver tudo o que tinham pra resolver, que não puderam viver tudo que havia pra viver. Vidas. E enquanto a nossa tem o privilégio de seguir, enquanto ela seguir, é nossa obrigação fazer com ela o que for preciso pra que ela seja feliz. E tem um detalhe muito, mas muito importante: todos, todos os momentos da vida têm algum aspecto pra se amar. Eu disse todos. Até quando parece que tá tudo uma bosta, tem algum detalhezinho pelo qual você pode respirar fundo, agradecer, e amar. E amar aquele detalhe, amar aquele momento da vida.

Eu costumava dizer que não se tem vontade de escrever quando tá tudo bem, quando tá tudo feliz. Só se tem vontade de escrever quando as coisas não estão tão boas assim. Mas é mentira, sabia? Porque nos momentos recentes em que estava em alguma festa e tocava alguma música que eu realmente amava, que eu fechava os olhos, sorria e me permitia só sentir aquela sensação, que eu agradecia profundamente por poder estar ali, com aquelas pessoas, naquele exato instante, sem me importar se a galera ao redor tava achando que eu tava ficando louca... Nesses momentos, eu só queria poder traduzir em palavras o quão maravilhoso é se sentir assim. Como o fato de ser grata por tudo que acontece é extremamente decisivo pro nível de felicidade que você consegue sentir. E saber que a gente tem mesmo que se sentir grato por tudo que acontecer, porque a verdade é também um clichêzão daqueles bem manjados: tudo acontece por uma razão.

E voltamos ao motivo pelo qual eu nem queria escrever isso. É porque eu não posso simplesmente chegar e te falar: seja grato. Eu não posso simplesmente chegar e te aconselhar: se permita, perca o medo. Porque, como eu disse, conselho não funciona. Porque, como eu disse, você só aprende por conta própria. Quer dizer, não se pode generalizar, pode ser que exista gente por aí que é evoluída e sábia o suficiente pra ouvir alguém dizendo essas coisas e concordar, e mudar a percepção e passar a ser uma pessoa melhor. Pode ser também que eu que seja um pouco mais lenta, e, na verdade, isso funciona pra todo mundo menos pra mim. Independente disso, eu resolvi escrever porque (assim como tudo o que escrevo, na realidade), eu acho que eu devo à mim mesma registrar isso tudo que ando vivendo, sentindo, aprendendo, percebendo.

Eu, que sou teimosa e me entrego completamente ao que sinto no momento, acho que é de extrema importância que eu possa relembrar quando for necessário que nossa felicidade só depende da gente. É completamente essencial que eu possa compreender, se em algum momento eu parecer fraquejar, que nada nem ninguém tem o poder de nos quebrar ou destruir se nós não o concedermos.

Há sempre motivos pelos quais agradecer e se alegrar.

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