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domingo, 15 de novembro de 2015

O amor muda

Você sabia que o amor muda as pessoas? Ou talvez ele mostre quem as pessoas realmente são. Pode ser também que você só se conheça de verdade depois de conhecer o amor. E quem sabe tudo o que você pensa sobre si, quando se trata de amor, não se aplica.

Eu sempre achei que não fosse nada romântica. Apesar de ver filmes e ler livros e ouvir músicas de amor, apesar de amar casais dos quais não fazia parte, apesar de imaginar histórias de amor pra mim, eu nunca conseguia me entregar de verdade. Houve um tempo em que isso realmente me preocupou. Comecei a pensar que nunca ia achar ninguém pra mim. Se a pessoa falava muito, enjoava. Se ela falava pouco, não queria o suficiente. Passava duas semanas com alguém por quem me interessei no primeiro dia, logo mais já não era tão interessante assim. Ao passo que, claro, qualquer um por quem eu parecia desenvolver algum tipo de apreço não demonstrava sequer saber da minha existência. Aí, um dia...

Sim, apareceu alguém. E simplesmente aconteceu. Eu não enjoei, ele não enjoou de mim. O assunto fluía, a química tava lá, eu ria do que ele falava, ele ria de mim também, tínhamos os mesmos gostos, os mesmos interesses, tínhamos, mais ainda, o mesmo sentimento. E eu não tinha que pensar demais, não me surgiram dúvidas como "será que vai dar certo", "será que ele é certo pra mim", "será que eu devo arriscar"... Simplesmente, deu, era, e eu arrisquei. E aí eu descobri que nunca tinha dado certo antes não porque eu não era nada romântica, mas porque eu era romântica demais. Ao conhecer aquele sentimento, que eu viria a nomear de amor, eu percebi que realmente, eu nunca iria querer nada demais com mais ninguém, porque, pra mim, nunca ia ser suficiente ficar com alguém porque aquela pessoa é bonita, é legal, é gentil. Nunca ia ser suficiente estar com uma pessoa porque ela também quer estar comigo. Pra mim, só funcionaria por completo. Com aquele frio na barriga, com o nervoso besta de qualquer interação. Com a felicidade de uma conversa trivial, com a rotina que faz sorrir. Com as discussões também, claro, mas as resoluções que evidenciam que nada é maior do que o que une. Eu sou romântica pra caralho, porque se não for pra me tirar o chão, o ar, a sanidade, e ao mesmo tempo me oferecer um porto seguro, um respirar de alívio e um ponto de lucidez numa vida conturbada, eu não quero. Se não for assim, não funciona. E eu nem penso sobre, simplesmente não flui.

Eu também sempre soube que era pessimista. Eu não precisava nem saber, isso todo mundo sempre me disse. "Poxa, para de pensar negativo", "você precisa ser mais positiva", "se você pensar que vai dar errado, nada vai dar certo". Minha facilidade de desistir diante da mais remota possibilidade de fracasso nunca me deixou esconder esse meu lado, que já foi pauta de tantas discussões entre amigos, que me deixa trancada num quarto quando tô pra baixo, que me tira oportunidades. Continuei pensando assim, até quando...

Diante de uma situação, na verdade, vivenciando a mesma situação pela... perdi a conta de qual vez, eu percebi. Eu percebi que quando se trata de amor, eu sou praticamente cega de otimismo. Quando se trata de amor eu assumo qualquer risco, eu aceito qualquer condição, eu pulo de olhos fechados e só me apego ao meu próprio sentimento como garantia de que não vou me estatelar. Sei disso porque não foi uma, nem duas, nem três vezes que tive de decidir se insistia ou se largava de vez. Sei disso porque não foram situações fáceis, porque eu escolhi o amor mesmo tendo 95% dos indícios apontando pro fracasso. Sei disso porque, ainda assim, aqui, sentada, redigindo esse texto, sei que se o amor me chamar mais uma vez, eu vou, novamente de olhos fechados. É como Lisbela fala naquele filme, "o amor me chamou pra um outro lado e eu fui atrás dele. Eu pensei que se eu não fosse, a minha vida inteira ia ser assim, vida de tristeza, vida de quem quis de corpo e alma e mesmo assim não fez, daí eu fui, eu fui e vou, toda vez que o amor me chamar, como um cachorrinho, mas coroada como uma rainha". Eu sempre vou, quantas vezes for preciso. Eu vou porque não se desperdiça amor. Logo eu, que aprendi que o amor mesmo é difícil de achar, não posso assumir uma postura de quem desiste assim.

Hoje talvez eu sofra menos, porque esses episódios com o amor me trouxeram serenidade. Serenidade pra saber que, quando é amor, acontece. Simplesmente acontece. Serenidade pra entender que a vida às vezes tem uma linha do tempo que a gente não consegue compreender quando tá no meio do tiroteio, mas que lá no futuro vai fazer sentido. Tem coisas que precisam acontecer no presente, mesmo que pareçam absurdas, mesmo que machuquem e deixem um vazio, porque o futuro tá chamando lá na frente com novas possibilidades. E o que mais me traz essa paz é saber que o amor é ainda mais sábio que nós, meros mortais que, de vez em quando, têm o privilégio de vivenciá-lo. Ele sabe muito bem quando aparecer, ele sabe muito bem a hora de se retrair, e se for preciso voltar, ele vai saber a hora também. Como em qualquer outro aspecto da vida, a não ser a Ciência (e essa eu nem discuto), é preciso ter fé.

Sou romântica. Sou otimista. Só o amor me faz assim.

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