Páginas

quinta-feira, 13 de março de 2014

A mente atordoada agradece

Ai, papel em branco. 
Ai, caneta. Ai, lápis.
Ai, letrinhas dos botões do meu teclado.
Ai, caixa de texto vazia. 
Ainda bem que vocês existem. Brigada, brigadão mesmo.

Porque eu preciso de vocês como uma válvula de escape. Palavras guardadas demais e por muito tempo me sufocam. O HD interno da minha mente tem espaço limitado e o fluxo de informação é grande demais, se eu não dou uma esvaziada de vez em quando, dá tilt. ERROR 404. Sabe? Tenho até medo do que possa acontecer, sei lá, um surto, um chilique, um colapso nervoso, ligações bêbadas.

E é só com vocês que eu posso realmente contar. Só vocês jamais me deixarão na mão. Pessoas não se importam. Pode ser que aqueles que realmente gostam de você se interessem por um tempo. Pode ser que eles te ouçam algumas vezes, até te deem conselhos, te abracem e falem que te entendem. Eles vão te dizer que são todos ouvidos, que quando quiseres desabafar, eles estarão ali. Só que, passado aquele primeiro momento, eles vão chegar à conclusão de que é uma cilada, Bino. Ninguém jamais aguentará ouvir dramas alheios sem cessar. As pessoas, amigos, elas estão pouco se fodendo. Tá todo mundo preocupadíssimo consigo mesmo o tempo todo.Todos vivem seus monólogos internos, ninguém tem tempo de se ocupar com os dos outros. Eu falo até por mim. Quem nunca sentou pra escutar o desabafo do amigo e se pegou pensando nas próprias questões enquanto faz cara de interessado e balança a cabeça de vez em quando?

Mas o saco dos seus confidentes vai acabar, e seus tormentos? Eles permanecem. E eles continuam martelando teu juízo, gritando "ei, presta atenção, tá pensando que é fácil assim se livrar de mim, colega?", enquanto cavam um buraco na tua sanidade, furam com britadeiras tua consciência. Quem costumava te ouvir vai começar a te dizer pra relaxar, pra deixar disso, esquecer isso, deixar isso pra lá, isso, isso, isso, foda-se isso. Quando não adiantar mais, eles vão só mudar de assunto. Mas, e aí? E todos esses problemas irremediáveis que minha cabeça criou e eu acabei de te contar? Não importa, é isso que você tá insinuando?

Ah, se esses desavisados soubessem que, dentro de uma cabeça que pensa demais, se o fato de aparecer uma formiga no bolo for motivo pra começar a confabular, não adianta, isso vai tomar proporções que nem um medidor da NASA conseguiria estimar ao certo. E aquele vai parecer o maior dos problemas que pode assolar a humanidade. E se, depois dessa desgraça homérica ser compartilhada, a resposta seguida demonstrar indiferença, automaticamente começará a tocar "Meu mundo caiu" da Maysa e tudo que restará a se fazer é se trancar, se isolar do mundo, tomar um porre, chorar no travesseiro, pensar "porquê eu ó bom deus que nos governa".

E é por isso, queridos amigos, que agora provo meu ponto. Não há nada mais reconfortante do que vomitar as palavras que lhe causam indigestão mental. Nos ouvidos errados, isso pode gerar um revertério ainda maior, e quem pode garantir quais são os ouvidos certos? A garantia é dividir com quem vai entender, com quem não precisa nem responder nada, só ficar lá, quietinho. Já que quem cala consente, o silêncio traz consigo o acalanto da compreensão. Compreensão essa que é a única coisa que lhe passa a ideia de que você não é louco por pensar tudo isso.

Por isso agradeço a vocês que mencionei ali no começo. Vocês, que me ofereceram condições para a produção desse mesmo texto que tô escrevendo. Vocês, que já acolheram tantas palavras que ninguém mais quis ouvir. Vocês, que estão sempre aqui quando eu preciso organizar a cabeça. Vocês, que abrigam frases e mais frases que jamais serão proferidas juntas da mesma forma por outro alguém. Vocês, que, pouco a pouco, comportam fragmentos de quem eu sou. Brigada, brigadão mesmo.

Por causa de vocês, ainda não fui à loucura.

Nenhum comentário:

Postar um comentário