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segunda-feira, 10 de março de 2014

Pode vir

Vem, pode vir. Eu te desafio.

Pode dar sinal nas minhas redes sociais, passar buzinando na frente da minha casa, colocar faixa escrita na minha janela, mandar carro de som parar na minha porta, anunciar no rádio. Não vai mais me incomodar. 

Se quiser formar acampamento aqui dentro do meu quarto, me acordar batendo panela, publicar um livro sobre mim, se infiltrar no meu círculo social, aparecer nas reuniões de família, vai fundo, campeão. Não me atinge mais.

E sabe, eu nem tenho mais curiosidade em saber o que diabos você quer provocar fazendo esse tipo de coisa. Já passei horas e dias e semanas da minha vida com a cabeça atormentada tentando decifrar se era só pra infernizar, só por medo de ser esquecido, só pra mostrar que ainda tava ali, mesmo quando eu queria mesmo era te apagar. É porque você quer ser meu amigão? Poxa, cara, eu sei que minha presença é magnífica, mas uma vez que sou dispensada, pronto, acabou. É definitivo. 

Cházinho de semancol você não quer tomar, né? Esperava tudo de você, mas não pensava que lhe faltava a noção. E aliás, se a gente for parar pra pensar, é melhor mesmo que você aja dessa maneira em momentos de repentina insanidade, porque se realmente achar uma boa ideia e fizer isso com a cabeça no lugar, então eu realmente perdi a esperança de uma melhora pra raça humana. E se pôr no seu lugar? Não vai? 

Ultimamente tenho ouvido muito a frase "aceita, que dói menos". Segui o conselho, e é por isso que meu atestado de idiota expirou e eu deixei de me importar com esses shows com os quais vezenquando você decide me presentear. Eu aceito conviver com suas demonstrações privadas de irracionalidade, só porque já tô cansada de fugir e de me exaltar quando acontece e de formular mil teorias e de, além do mais, guardar tudo isso pra mim, pra ver se sendo ignorado você se toca. E já que até agora esse "se tocamento" não ocorreu, acabei por aceitar mesmo. E olha, só porque sou muito legal, repasso o mesmo conselho que ouvi. Colega, aceita que eu não vou mais me abalar, que dói menos. 

Juro que vai ser bem mais tranquilo viver sem ter que fazer essas aparições desnecessárias. Ah, sei lá, nesses dias que a gente vive, cheios de coisas pra fazer o tempo todo, rotina matando, aula, estágio, academia, barzinho, ainda ter que ficar agendando o momento em que você vai dar aquele sinal de vida básico só pra marcar território com certeza deve requerer um pouco de esforço também. Já pensou se ao invés de ficar se ocupando com essa babaquice, você estivesse, sei lá, fazendo uma obra muito foda de mobilidade urbana que ia te deixar rico, ou talvez cuidando um pouco da própria vida? Até mesmo cortando as unhas do pé ou fazendo a feira ou lavando uma pia de louça suja? Certeza que a prosperidade já teria batido à sua porta e todos nós viveríamos mais felizes e civilizados.

Mas olha, tudo bem. Eu lhe agradeço por tanta devoção. Não te ofereço o mesmo porque realmente não tenho de onde tirar. E também não tenho interesse algum. Mas passe bem. Só não pense que vou passar mal.

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