Páginas

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Sem arrependimentos

O impulsivo não pode sentir arrependimento.

Sou contra esse tipo de sentimento de qualquer forma, pra começo de história. Acho que, diferentemente do ditado popular, não tem que se arrepender nem do que não fez, afinal, se não fez, não queria, então pra que se forçar? Se fez e não deu certo, não importa o resultado, já que era o que se desejava naquele momento. Se não fizesse iria pra sempre ser assombrado pelo famigerado "e se", então porque se martirizar? Mas, pro impulsivo, é ainda mais errado querer reclamar.

Se você é uma pessoa completamente racional, que pensa mil vezes antes de fazer qualquer coisa, e, na hora certa, cumpre exatamente o que havia pensado antes, beleza, eu até entendo o arrependimento surgir. Afinal, você demorou pra tomar aquela decisão, ponderou os prós e contras, foi lá e fez o que achou que era o mais apropriado e ainda assim fracassou. Continuo achando remorso inválido, mas também consigo entender que ele acabe acontecendo por conta da frustração.

Mas o impulsivo? Sem querer ofender se você for um (porque eu sou também), mas esse tipo de gente não pode se arrepender. Impulsivo se arrepender é quase hipocrisia. Vou dizer o por quê. 

Ser impulsivo não quer dizer ser irracional. Não quer dizer ser completamente inconsequente em todos os momentos, egoísta e prepotente (porque, sinto dizer que quem só faz o que quer o tempo todo, é, sim, egoísta e prepotente). Às vezes ser impulsivo significa pensar, pensar muito, antes e depois de qualquer coisa, mas não conseguir se controlar na hora H. Impulsividade é saber o certo a se fazer, saber o que é melhor pra você, mas, mesmo assim, seguir o coração no instante em que uma decisão tem que ser tomada.

Ser impulsivo é tentar se convencer de que deve-se agir de tal maneira, é pedir ajuda às pessoas ao redor para que não te deixem fazer uma besteira, é dizer "se eu fizer isso, pode me bater", é usar estratégias que façam com que você mesmo queira se impedir de algo (exemplo? Sair de batom vermelho pra ter certeza de que não vai beijar ninguém, porque se não vai borrar tudo - não que eu já tenha feito isso, pelamordideus, apenas uma situação hipotética aqui, rs). 

Mas ser impulsivo é saber que, lá no fundo, não é nada disso que você quer, e ao mesmo tempo que faz todas as coisas listadas acima, tá arquitetando um plano alternativo que consegue te livrar de todos os obstáculos que você mesmo impôs no seu caminho. É enganar a própria consciência e desenvolver explicações que façam parecer minimamente plausível a possibilidade de ir contra tudo que você já pensou e decidiu pra si. É simplesmente não conseguir lutar contra os instintos. Como já falei, é seguir o coração. E claro que também há os impulsivos que só vão lá e fazem o que querem mesmo, sem nem refletir sobre o assunto, mas esses, eu tenho quase certeza que não entram na discussão, porque não devem saber nem o significado da palavra "culpa".

É por isso que eu (e você também, se achar que se encaixa nessas descrições) não me acho no direito de me arrepender de nada. Se eu tentei me conter, mas ao mesmo tempo, desobedeci todas as regras previamente impostas pra realizar o desejo que o momento despertou em mim, e se aquilo me satisfez por pelo menos um instante, significa que eu queria muito, não é mesmo? A vida é tão curta pra não tentar fazer o que for necessário pra ser feliz. É o presente que me importa, e se agora eu acho que, sei lá, sair na rua com uma fantasia de hotdog gigante cantando funk é o que vai me animar, é o que o meu coração quer, eu vou, nem que isso queime minha reputação e eu faça papel de idiota. O futuro é o futuro, com ele a gente se resolve depois. Faço o que dá na telha no momento porque já aprendi que nada é irremediável, nada é definitivo. Nem a consequência mais catastrófica que eu puder pensar que existe vai ser incurável. Se tem uma coisa que eu odeio é me forçar a qualquer coisa: seja a fazer algo ou a deixar de fazer. E se tudo nessa vida é tão efêmero, se tudo passa, se a vida te leva pra onde você tem que estar, no final das contas, pra que ficar sofrendo? Passou? Passou. Então fica aonde tem que estar, no passado. 

Já errei muito, mas muito mesmo, por causa desse jeitinho. Mas não mudaria. Não mudo. E não me arrependo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário