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segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Trágico

Eu odeio pensar sobre o amor.

De todas as mortes, a do amor é a mais trágica.

Quando morre um amor, é uma morte individual. Como uma pessoa morre pra você e continua vivendo pro resto do mundo? Como você morre pra alguém mas continua vivo pras outras pessoas? Como é que se escolhe morrer pra alguém? 

Fazem parte do dia-a-dia a sua família, seus amigos, seu amor. Em nenhuma outra relação há esse tipo de rompimento. Não se acaba um relacionamento de amizade, de fraternidade (pelo menos não normalmente). Não chega um dia em que você olha pro seu melhor amigo, ou pra sua mãe, e simplesmente diz "não quero mais, vamo acabar". Mas seu amor, aquele que dividiu tantos momentos, aquele que mudou sua rotina e seus hábitos, aquele que virou parte de você... Quando acaba, acaba. Quando acaba, morre. E tem que morrer, porque ficar cultivando a presença de alguém que escolheu a morte é o mesmo que criar fantasmas na sua casa, é viver mal assombrado. 

Me incomoda demais pensar no porquê. Como pode alguém que um dia te encantou tanto, alguém que tinha tanto em comum, alguém que dividia sorrisos e lágrimas, alguém que compartilhou tantas lembranças e presentes e músicas e filmes, alguém que virou parte tão presente de uma vida, que escolheu viver tudo isso junto, um dia "desescolher"? O que acontece com toda a química que existia antes, com as borboletas no estômago, com a excitação em estar perto, com o riso bobo, com o admirar sem pretensão? Pra onde vai a vontade de estar junto, só por estar junto? Quer dizer então que amor tem prazo de validade?

E o que é que se faz com o que sobrou? Não tem velório nem funeral pra um amor que morre. Tem só uma vida que continua... Duas vidas que eram tão juntas têm que se separar. Cada um pro seu lado. Cada um morto pro outro, mas vivo pra todos que conviviam com os dois. Só quem fica de luto é você, pro resto do mundo não houve morte alguma. Restam-se fotos para as quais não é mais saudável olhar. Restam-se presentes que não têm mais nenhuma utilidade. Pior mesmo são as memórias que restam. É o que resta da rotina. Resta uma vida inteira a se reestruturar.

Eu odeio pensar sobre o amor. Ninguém entende porque fico triste quando casais que não dizem respeito a mim se separam. Fico triste pelo amor. Eu nunca vou entender como pode um amor morrer. Será que morre mesmo? Ou apenas se torna impossível continuar numa relação, mas ainda se cultiva sentimento? Ou será que nunca nem viveu? Ninguém tem medo de amar, as pessoas têm medo é de o amor morrer. Não é o amor que faz sofrer, é a morte do amor. 

É a morte mais trágica, é morrer e continuar vivendo. 

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